Pista do Aeroporto Salgado Filho ficou 75% submersa durante enchente, diz Fraport; entenda demora para retomada

Dos 3,2 mil metros da pista, apenas 800 metros não foram inundados. Para especialista, reparação depende do tamanho do estrago em camadas que sustentam asfalto. Governo federal espera, para esta terça-feira (16), plano da Fraport para retomada de operações.

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A pista do Aeroporto Salgado Filho, inundada durante a enchente de maio em Porto Alegre, ficou 75% submersa, segundo a Fraport, empresa alemã que administra o terminal. A companhia ainda não projeta uma data para retomar os pousos e decolagens, que seguem ocorrendo na Base Aérea de Canoas, enquanto as operações de check-in voltaram a ser realizadas na capital na segunda-feira (15).

Segundo Fabricio Cardoso, diretor de operações da Fraport, a empresa está na fase de análise das condições de infraestrutura da pista. O resultado deve ser levado ao governo federal, para que uma data de retorno das operações seja estimada.

“De 3,2 mil metros da nossa pista, somente 800 metros não ficaram submersos. Uma grande porção da pista foi atingida pela enchente. Assim que a água baixou, a gente trabalhou no diagnóstico, agora se trabalha nas análises”, diz.

O Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) afirma que o plano da Fraport deve ser apresentado nesta terça-feira (16) ao governo federal. Após tomarem conhecimento do relatório, o MPor, a Secretaria de Apoio à Reconstrução do RS, a Casa Civil e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) planejam apresentar um diagnóstico dos estudos.

O g1 consultou um especialista para conferir quais são as condições da pista do Salgado Filho após a inundação e os possíveis reflexos desse problema para a retomada das operações (entenda, ponto a ponto, abaixo).

A convite do g1, o engenheiro civil Felipe Brasil Viegas, coordenador do curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), analisou a inundação da pista do Salgado Filho e projetou eventuais reflexos do problema para a reabertura completa do local.

Na avaliação de Felipe Brasil Viegas, os problemas começam justamente na localização do aeroporto. A primeira pista de pouso de Porto Alegre começou a funcionar em 1923, em um campo da várzea do Rio Gravataí. Ao longo de mais de cem anos, o espaço e os terminais foram ampliados, transformando o local no que hoje é o Aeroporto Internacional Salgado Filho.

As várzeas são regiões alagadiças, como se observou na enchente de maio. Para o professor Felipe Brasil Viegas, o solo onde foi erguida a pista do Salgado Filho é “ótimo para plantar arroz”.

“O terreno no qual a pista está implantada é um solo muito, muito ruim. É um solo, eu sempre brinco, ótimo para plantar arroz. É um solo orgânico de argila mole, muito deformável. Quando é um solo melhor, rochoso, alteração de rocha, fica mais fácil”, diz o engenheiro.

Como o solo não é o ideal para um aeroporto, foram necessárias adaptações ao longo das décadas.

🧱 Camadas da pista

A Fraport assumiu a gestão do aeroporto em 2016 e realizou a ampliação da pista de 2,28 mil metros para os atuais 3,2 mil. Segundo o professor da PUCRS, a empresa construiu o trecho ampliado “com estacas em uma mistura de solo e cimento para criar o reforço”.

Já na pista original, o processo foi diferente. O solo da pista foi adensado – “é como se você ficasse apertando uma esponja de lavar louça”, explica o engenheiro. Sobre esse solo, foram colocadas uma camada de pedra rachão (semelhante às rochas usadas na construção dos “corredores humanitários”), uma lâmina de concreto e o acabamento em asfalto. Essas camadas juntas medem cerca de 4 metros de altura.

🔎 Tamanho do estrago

De acordo com Felipe Brasil Viegas, o acabamento em asfalto sofre desgaste ao longo do tempo e é constantemente reparado, como em rodovias. O problema atual está em saber qual o grau do impacto da enchente nas camadas inferiores.

“O problema todo está em entender se o profundo alagamento que houve no Salgado Filho comprometeu as camadas de baixo, ou seja, esses 4 metros de aterro que têm ali. Se isso, de alguma maneira, foi carreado [levado de arrasto pela água], se isso cedeu, se isso deformou. Porque isso vai exigir naturalmente algum reforço”, afirma o engenheiro.

Como a Fraport não detalhou publicamente os problemas observados na pista, o coordenador do Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da PUCRS diz ser difícil precisar o tamanho do estrago e o tempo necessário para o reparo.

🛫 Resistência da pista

As pistas de aeroportos têm a resistência medida pelo índice PCN (abreviatura em inglês de “número de classificação de pavimento”). Já os aviões são medidos pelo índice ACN (sigla em inglês de “número de classificação da aeronave”), que expressa o efeito de uma aeronave com uma determinada carga sobre um pavimento.

O indicador do Salgado Filho antes da enchente era 72. Dessa forma, aviões com um ACN inferior a esse PCN poderiam pousar ou decolar no local.

“Se o do Salgado Filho é 72 e o avião está operando com um nível 60, ok, ele pode aterrissar”, explica Felipe Brasil Viegas.

O engenheiro comenta que as pistas apresentam diferenças de PCN ao longo de sua extensão, com indicadores menores na base, por exemplo, e que algumas exceções são abertas para situações pontuais, como voos de aviões “mais pesados”.

“A Anac tolera um conjunto de operações acima desse limite, sabendo que depois, lá adiante, [o aeroporto] terá que fazer manutenções. Você pode extrapolar o limite, eventualmente, não pode ser a rotina”, diz.

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